ROWEN - A besta está solta

A fera era tão agil quanto era poderosa, não só isso mas o ataque de Rowen foi desajeitado, sem equilibrio e sem efeito...parecia um garoto que acabou de pegar uma espada pela primeira vez.
As palavras da fera faziam mais efeito do que qualquer ataque, da ultima vez só conseguiu sobrepujar a fera por causa dos rituais do druida...dessa vez era literalmente ele com sua propria força de vontade contra isso.

Ela o circulava, uma tática que lembra já ter usado junto com Kiva, virava seu corpo para ficar de frente a ele, não se deixaria ser pego pelos flancos ou pelas costas.

Rowen coloca sua espada de duas mãos a frente do ataque, tentando apara-lo. A criatura é forte demais, empurrando-o para trás, sentia o peso de seu ataque que era...o exato mesmo que recorda-se de colocar atrás dos seus próprios ataques.

As palavras do druida brotavam em sua mente como um mantra.

" - A fúria que arde em sua alma é como o fogo Rowen. Ela queima, ela consome, ela cresce, ela respira, ela vive, mante-la acorrentada fará esse fogo consumi-lo por completo. Mas descarrega-la sobre o mundo consumirá outros. Mas do mesmo jeito que o fogo mata, ele aquece e salva...a unica coisa que vai determinar o que o seu irá fazer...é você. Mas para isso você primeiro precisa parar de fugir dele."

Na época aquilo não fazia muito sentido...como poderia considerar aqueles impulsos violentos como algo menos que uma maldição? Como poderia considerar esse impulso em rasgar a carne com suas garras, devorar a carne sangrenta crua, ver cada fêmea em seu caminho como brinquedo de procriação como algo que poderia ser construtivo?

Havia algo na fera que admirava, por mais que seu orgulho decadente negasse...ela não hesitava, ela não tinha medo, ela tem a mais absoluta certeza do que quer e do que tem que fazer.

- Agora...eu entendi...

Seu tom era de quem provavelmente acabou de descobrir a iluminação.

- Sua força é a minha força, sua velocidade é a minha, sua fúria é minha fúria, seu desespero é o meu desespero...você não é uma entidade sussurrando no meu ouvido, você sou eu! Parte da minha força e parte da minha fraqueza...o fogo que tenho que direcionar...e aceitar...

Seu foco volta, suas mãos seguram a espada com mais firmeza, pela primeira vez desde que Sylorn caiu...tinha absoluta certeza do que tinha que fazer.

- Eu não ligo em perder para os outros...mas eu não posso perder para mim mesmo! Não podemos existir sem o outro, somos dois lados da mesma moeda...eu não sou um humano mais, nem um lobo...sou...somos...os dois, o pior e o melhor de ambos. E não vou deixar você nos transformar no pior! Se esse fogo é o meu destino, que seja! Enfrentarei e aceitarei isso! Se estiver disposto...venha, vai ter que trabalhar pela sua refeição!

Em qualquer outra situação Rowen teria se preparado para se defender, mas aquele não era um inimigo qualquer, era sua contraparte que não conhece nada além de instinto. Conseguia sentir o medo da criatura, ela o temia também e do mesmo jeito que o medo de Rowen impediu seu ataque, o medo da criatura impediria o dela.

Rowen estava diferente, olhou a morte nos olhos e sobreviveu a um destino pior que a morte. Quando volta a si sente uma sensação de vida, cada fibra do seu corpo fervia, seus musculos enormes retezados, seu pelo agora branco eriçado, seu focinho lupino na direção da lua.

Uiva para a lua sentindo todo o poder desmedido de sua natureza, toda a força selvagem e sem limites e todo o vigor junto com a percepção do mundo de modo que nunca havia sentido. Conseguia ouvir tão bem que conseguia ouvir o batimento do coração de todos a sua volta acelerando, o cheiro de sangue inunda o lugar mas não o incomoda, pelo contrário, o deixa ainda mais animado, sentia em seu interior como se seu sangue fosse fogo, sentia a necessidade de saciar a fome e sede, de correr com os pés mal alcançando o chão.

Sente a chuva de sangue castigando o solo e não se incomoda nem um pouco, a noite ainda era uma criança e Rowen não tinha mais receios ou duvidas...

O lobisomem volta a realidade, a voz do elfo parecia mais alta, e Rowen ainda podia sentir claramente o cheiro de medo do outro elfo.

Estava na verdade pouco ligando pra chuva de sangue, deixando ela cair sobre si sem problema.

- Nunca estive melhor. Depois te conto por que...

Observa seus arredores, não conhecia nada daquele lugar, e agora que parou para pensar nunca havia visto esse tipo de feito na lua.

- Hmm...não. Nunca vi isso acontecer. É a primeira vez que vejo a lua desse jeito...

Nota que até Kiva estava abrigada na chuva provavelmente se perguntando o que diabos aconteceu.

- Kiva! Para de corpo mole e vamos logo, você já ta mais que acostumada com sangue. *Fala em um tom mais firme*

- Mas é melhor irmos andando...esse cheirão de sangue vai atrair predadores. Nessa lua eles ficam mais...agitados. Se dermos sorte encontramos algum pra despedaçar no caminho, isso se os seus homens pararem de ficar com medo de sangue.

- Espero que não seja velhice precoce...sou boa pinta demais pra morrer. *Responde em um tom de brincadeira a Kiva*

Sentia pelo olhar do elfo que ele entendeu mais ou menos o que houve, foi mais uma vitória pessoal do que algo que pudesse ser visto por eles. Volta a caminhar ao lado de Kiva e dos elfos, deixando-os passar na frente já que eles precisavam avisar os sentinelas de plantão para não atirar.

Conforme andavam, percebeu os animais muito agitados, mas nenhum parecia mostrar agressividade na direção deles, por mais que um animal não pense, ele sabe quais são suas chances de vencer.

A chuva diminuia e o cheiro de sangue também, sentia o cheiro vindo dentre os galhos, era bastante madeira e apesar do fedor de sangue ainda ser bem intenso em todos, sentiu de leve que tem pessoas nesse lugar.

- Eu to achando melhor você ir na frente e explicar a situação Elsir. Evitar...incidentes desagradaveis.

- Meu lado mais...?

Se interrompe com a reação do elfo, de fato o lugar parecia mesmo deserto demais. O lobisomem ergue o focinho e começa a sentir o cheiro de antes mais forte.

- Cheiro de sangue...e carne...e tão frescos ainda. Melhor tomar cuidado, seja lá o que passou aqui ainda ta por perto.

O lobisomem andava logo atrás de elsir, suas garras prontas e seus ouvidos aguçados para qualquer barulho suspeito ou movimentação.

O cheiro de sangue é um que conhece bem, e com aquela intensidade, mesmo com o mesmo cheiro estando em todo lugar já tinha uma noção de que os elfos estariam na melhor das hipoteses muito feridos e na pior, mortos.
Eles pareciam ter sido atacados por algum animal, nenhum humano ou elfo poderia despedaçar alguém daquele jeito.
Ergue o focinho tentando captar algum cheiro diferente.

- Eles ainda tão frescos...seja lá o que passou aqui não deve estar muito longe.

Ao sentir o cheiro, várias hipoteses aparecem na sua mente, mas não podia deixar essa oportunidade passar, podia ser impressão mas algo nele dizia que era alguém do lado de fora.
De sopetão, o lobisomem se ergue e vai para a fonte do cheiro, Kiva provavelmente o acompanhará e já tem certeza que o elfo vai também querer ver qual o motivo da subita agitação do lobisomem.

Seus instintos lhe servem bem, fazendo-o se retirar da trajetória da flecha saindo apenas com um ferimento superficial que logo cicatriza graças a sua regeneração.

Pega cobertura na parede e faz um gesto para que Kiva recue para fora da linha de visão.

- Elsir, é melhor você ir lá fora e explicar a situação, se eles não escutarem seu futuro rei, não escutam ninguém. Se for realmente preciso, me amarre ou coisa assim... *Fala com um tom de óbvio aborrecimento, a ideia com certeza não o agrada* - É melhor do que panico generalizado na cidade com um lobisomem e uma loba atroz aparecendo...mas já aviso que vou arrancar o braço do primeiro que vir com uma focinheira pra perto de mim...

Não estava acostumado a tantos sons de uma vez só. Era como se todos estivessem com o peito encostado em suas orelhas, os elfos mal eram audiveis lá fora.

Conseguiu avistar três elfos proximos a Elsir, a expressão de esnobismo era com certeza muito familiar, fazendo Rowen lembrar da corte lá em Sylorn, lotada de nobres espalhafatosos e mimados.

Quando Elsir retornou e disse o que de fato estava acontecendo, Rowen não sabia se ficava mais incomodado com a situação ou com o fato dos elfos conspirarem uns contra os outros tanto quanto humanos.

- Conspirações na corte e nobres insuportaveis...algumas coisas são realmente universais. Se você acha que tem um jeito de provar sua inocencia podemos arriscar...mas de novo, eles por acaso vão querer brincar de tiro ao alvo comigo quando eu sair ou você explicou que eu não vou ser perigo se não me derem um motivo?

[center ELSIR - Acho que não existe razões para isso, pois ja os avisei sobre vocês...

Elsir fez uma pequena pausa, olhando bem para Rowen e Kiva, com uma expressão de preocupação.

ELSIR - Estou com um mal precentimento... Não, não é nada, deixa pra la... É que pediram para que ambos fossem presos e levados, porque dizem que é impossivel um licantropo saber falar sem um mestre e desconfiam de você... Você se importa? Farei de tudo para que seja o mais breve qualquer incomodo para vocês.

Restava agora os dois decidirem se aceitariam ser presos e, provavelmente tanto pela expressão de Elsir quanto pela forma como conversaram la fora, não seriam tratados com tanta liberdade quanto a que experimentaram com o grupo de Elsir.[/center]

- Otimo...odiaria mastigar o braço de alguém sem avisar antes...

Solta um suspiro frustrado com as opções particularmente desagradáveis.

- Não imagina...eu to acostumado a ser amarrado como um peru de ação de graças, ser forçado para dentro de uma cela fedida e ser tratado como um cachorro de rua enquanto nobres que acham que são deuses na terra por terem saído de um par de pernas rico decidem meu destino...é claro que eu me importo! Mas não temos muita escolha temos?

O que mais odiava era não saber o que diabos fariam com Kiva.


- E outro aviso...se a Kiva voltar com um arranhão nela...cabeças vão rolar...literalmente...agora vamos para minha confortável cela...

Espera até Elsir sair e o segue, instruindo Kiva a não atacar

Ao sair da cabana, Rowen consegue detectar o cheiro de pelo menos uns 30 elfos, percebendo que fugir seria a pior idéia do mundo já que dificilmente despistaria 30 guerreiros treinados para achar qualquer coisa neste terreno.

Encara o capitão de volta, já olhou a pior parte de si mesmo nos olhos, um elfo se escondendo atrás de um mini exército dificilmente o intimidaria.

Não controla um rosnado de frustração ao ver os grilhões de prata.

- Ah...perfeito...

Estica os braços com as mãos fechadas.

- Tira esses dentinhos da minha cara...eu concordei em vir não concordei?

Não faz nenhuma objeção quanto a ter as mãos e pés imobilizados, mas se vierem tentar colocar o grilhão no pescoço, o lobisomem vai olhar bem no olho do que estiver segurando isso e falar de modo nada amistoso.

- Quer perder o braço homenzinho? Eu não vou usar nenhuma maldita coleira.